A Polícia Civil de Minas Gerais indiciou o dono de uma padaria no Bairro Serrano, na Pampulha, e o padeiro responsável pela fabricação de uma torta de frango contaminada com toxina botulínica, vendida em abril deste ano. O alimento intoxicou um casal de jovens e causou a morte de Cleuza Maria de Jesus, de 75 anos, tia de uma das vítimas.
Segundo a delegada Elyenni Celida da Silva, da Delegacia de Defesa do Consumidor, os dois foram indiciados por lesão corporal culposa, homicídio culposo e venda de alimento impróprio para consumo.
Durante a investigação, foram constatadas condições precárias de higiene e armazenamento na padaria. Alimentos crus e cozidos eram mantidos juntos, embalagens estavam abertas, o local não possuía alvará sanitário nem registro no sistema municipal de regularização. Além disso, nenhum funcionário tinha carteira assinada, e o padeiro responsável pela torta trabalhava havia apenas cinco dias no estabelecimento.
“Isso nos ajuda a concluir uma falta de respeito e cuidado com um local que vende alimentos”, afirmou a delegada. A apuração contou com laudos técnicos, 22 oitivas e relatórios médicos. O diagnóstico de botulismo foi confirmado pelo critério clínico epidemiológico, a partir dos sintomas apresentados pelas vítimas.
Sequelas graves
As vítimas Fernanda Isabella de Morais Nogueira, de 23 anos, e José Vitor Carrillo Reis, de 24, ainda enfrentam perda parcial da visão, problemas de coordenação motora e dificuldades para caminhar e realizar tarefas cotidianas. Eles ficaram internados por três meses em um hospital particular de Belo Horizonte e receberam alta apenas em julho.
Já a idosa Cleuza Maria de Jesus faleceu poucos dias após consumir a torta. De acordo com a Polícia Civil, ela teria ingerido uma quantidade maior do alimento, o que agravou os efeitos da intoxicação.
Como o crime ocorreu
No dia 21 de abril, o casal comprou a torta de frango na padaria e levou para a casa da tia em Belo Horizonte. Cleuza foi a primeira a experimentar o alimento. Em seguida, Fernanda e José Vitor também provaram, mas perceberam gosto e cheiro azedos. Eles chegaram a devolver a torta ao estabelecimento, onde foi descartada.
Na madrugada seguinte, Cleuza apresentou dificuldades para respirar e foi levada ao hospital já em estado grave. Poucas horas depois, o casal também foi internado em Sete Lagoas, sendo transferido dias depois para Belo Horizonte.
Defesa do padeiro
A defesa de Ronaldo de Souza Abreu, padeiro responsável pela fabricação da torta, afirmou em nota que o cliente recebeu “com tristeza” a notícia do indiciamento e que ele não tinha autonomia sobre as condições do local.
“Imputar a ele a responsabilidade por falhas graves e antigas do estabelecimento é injusto e desproporcional. Estamos convictos de que, no curso do processo judicial, ficará provado que ele não contribuiu para o resultado trágico e que sua dignidade será preservada”, disse a defesa.
A investigação também apurou que Ronaldo levou uma das tortas para casa, consumida por sua família sem sintomas. A delegada ressaltou, no entanto, que isso não exclui a possibilidade de contaminação em unidades específicas, devido à chamada contaminação cruzada.